23 de junho de 2016

Cadê a poesia?

Faz tempo que não escrevo aqui...

Mas desde os nove meses da morte da Helena, algo aconteceu.

Sinto uma irritabilidade freqüente, embora muitas coisas tenham melhorado para mim e para minha família. Hoje pela manhã, fiquei refletindo sobre o meu estado emocional.

"Afinal, o que está estranho?"...

Nessa reflexão, eu me dei conta de que a poesia do luto acabou. 

Olhando para trás, percebo que nos momentos mais angustiantes da dor eu extraí certa beleza. Uma mandala, uma poesia, uma música, uma frase, um ritual, um momento especial... 

Agora eu estou no lugar do deserto do luto onde muito caminhei - por isso sei que meu trabalho não foi em vão e que exigiu de mim muita entrega e energia - mas não consigo enxergar o oásis à minha frente.

Estou cansada, com sede, exausta por procurar um sentido de identidade: quem eu fui um dia, deixei em algum lugar e momento dessa caminhada. 

Não me reconheço mais...

E eu penso todos os dias e momentos na minha filha. Que estaria com dez meses, já comendo, engatinhando, ensaiando os primeiros passos... Sendo a luz e a alegria dos nossos dias. Certamente já estaríamos planejando seu primeiro aniversário.

Ontem, estudando com meu filho, pensei como seria estar com ela... Certamente uma loucura  dar atenção aos dois. Talvez o Henrique tivesse ciúmes do trono dividido com a irmã. 

Como entristece me dar conta do que perdemos. 

Eu sou um coração amputado. 

Talvez eu esteja na "crueza" do luto. No vazio de tudo. Eu me esvaziei de mim, depois que esvaziaram a minha vida de pessoas tão amadas: filha, irmão, sogra. Esvaziaram a minha vida da falsa segurança da permanência, e restou-me o "nada" onde apoiar. Com o que eu preencho tudo isso?

Ainda não aprendi a flutuar nesse vácuo, e é o que devo fazer.

Disseram-me que preciso de férias. Férias de mim. Férias de planejar o futuro.

Algo me diz que essa pode ser a fonte do meu oásis interior... Um lugar onde eu possa saciar a sede para, finalmente, chegar ao fim dessa longa travessia.

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